FELD/LAB
O Espaço do Tempo criou o FELD/LAB, projecto que contou com o financiamento do Goethe Institut, em Portugal, e a colaboração do Hebbel am Ufer (HAU), em Berlim, e da plataforma de comunicação Coffeepaste. Este projecto, focado na arte performativa e dança contemporâneas emergentes, procura criar uma ponte entre Montemor-o-Novo e Berlim, fomentando o intercâmbio de artistas num ambiente ideal para a criação em residências artísticas. Para o efeito, O Espaço do Tempo garante o apoio técnico e de produção da sua equipa, utilizando o mais recente espaço da estrutura, a XL Box, espaço de grandes dimensões que permite responder à necessidade do meio artístico para produções de maior escala.
Em 2022, o projecto FELD/LAB recebe três criadores em residência, emergentes da dança contemporânea e residentes na Alemanha: a coreógrafa e performer Kat Válastur, e a coreógrafa e bailarina Ligia Lewis, ambas a viver em Berlim; e o coreógrafo freelance Moritz Ostruschnjak, de Munique. O processo criativo destes artistas foi gravado pelo cineasta Bruno Canas, culminando num documentário em vídeo que, paralelamente à apresentação do processo de criação e ambiente em residência de cada um destes projectos, conta ainda com uma entrevista moderada pelo director artístico d’O Espaço do Tempo, Rui Horta.
The FarNear, de Kat Válastur
The FarNear, de Kat Valastur, aborda a noção de trauma e cura, com especial atenção para o inconsciente coletivo ferido das mulheres perante a questão do uso do corpo feminino como corpo descartável. Aproximando-se da lenda grega da ponte de Arta, onde o construtor sacrifica a sua esposa para que a construção não entre em colapso, The FarNear remonta às narrativas de folclore onde o corpo feminino é sacrificado em nome de algo.
O Espaço do Tempo acolheu Kat Válastur e restante equipa na XL Box. The FarNear esteve em residência artística de 13 a 25 de junho. Em Montemor-o-Novo, a coreógrafa prosseguiu com a investigação que questiona quais as forças que estes mitos carregam e de que forma podem ser traduzidos num contexto encenado e habitado por performers femininas.
A Plot/A Scandal, de Ligia Lewis
Se a vida é um escândalo à espera de ser conspirado, como é que nos posicionamos dentro da sua matriz? Imoral e carente decoro, os escândalos são incidentes em que a fantasia e o prazer ocupam o centro das atenções. A Plot/A Scandal, de Ligia Lewis, explora o palco onde abundam os escândalos, construindo uma cena em formação onde a emoção por algo que não encaixa pode encontrar o seu lugar.
Ligia Lewis esteve n’O Espaço do Tempo em residência artística de 1 a 8 de agosto. O resultado desta residência é visível neste documentário, contando ainda com uma conversa com Rui Horta.
Hard to be a God, de Moritz Ostruschnjak
Numa ilha sem nome, a memória é um crime que deve ser esquecido. A Polícia da Memória, força que garante a supremacia da ditadura, assegura-se de que quem persegue a memória acaba, também, esquecido. A nova peça de Moritz Ostruschnjak, Hard to be a God, é baseada no romance Island of Lost Memory (A Polícia da Memória), de Yoko Ogawa. Procurando uma tradução livre das restrições da narrativa clássica, Ostruschnjak foca a sua peça no tema do desaparecimento e esquecimento, entendendo o romance distópico da autora como uma analogia ao nosso presente, onde inúmeros dados são armazenados e entram no nosso mundo em bits e byts, o que acabará por nos fazer esquecer o passado e a nossa fisicalidade.
Hard to be a God foi o último projeto de 2022 que recebemos na XL Box a propósito do projeto FELD/LAB. Moritz Ostruschnjak e a sua equipa estiveram em residência artística de 8 a 20 de novembro, culminando na já habitual conversa com Rui Horta.