Nova Criação

O que acontece no encontro entre dois interlocutores? O que se move nesse espaço entre anterior à chegada da palavra? Nesse espaço de sentidos que encarnados – em um gesto ou uma expressão, na distância entre os corpos, na maneira de olhar ou abrir a boca – são plausíveis de leitura e interpretação, orientam nossa atenção e capacidade especulativa, prescindindo de palavras elucidativas. É possível suspender e habitar esse espaço efémero silenciado de palavras, mas cheio de sentidos? Qual é a elasticidade de uma interlocução entre dois (ou mais) sujeitos cujas motivações para a comunicação não são concretas nem conclusivas? Como mover a atenção do outro através dos sentidos corporificados em nossa expressividade? Qual é a relação entre atenção e intenção? Por quanto tempo essa deriva de atenção pode ser mantida, essa conversa em que a palavra e a referencialidade ao mundo exterior parecem não ter lugar? É possível uma interlocução feita a base de sonoridades, expressões e gestos de leitura difusa? Como gesticular tal difusão de sentido somado a uma concretude de afetos? Quais relacionamentos e presenças ocorrem ao activar diferentes modalidades de comunicação?

Nova Criação é uma investigação sobre a linguagem encarnada que parte do sujeito/corpo comunicativo e suas possibilidades perceptivas e expressivas para abordar a ampla gama da comunicação humana. Um dispositivo de conversas ineficazes, erráticas e inconclusivas que orienta a atenção do interlocutor através do estudo do papel e dos efeitos do gesto, expressividade facial, som, prosódia e fala no ato comunicativo. Um convite a comprometer-se com a confusão, a incongruência e o absurdo, para subverter a hegemonia da compreensão racional e da referencialidade para o mundo simbólico – para seus conceitos, sujeitos e objectos – como a única maneira de comunicar-se.

Direção e co-criação: Bruno Brandolino
Co-criação: Bibí Dória

Apoios: O Espaço do Tempo (Montemor-o-novo) e o projecto 23 Milhas (Ílhavo).

Foto / Photo Brian Ojeda